Técnicas construtivas, como madeira engenheirada e wood framing, se destacam por sua tecnologia alinhada aos princípios de responsabilidade ambiental, social e governança
Reduzir a pegada de carbono em uma obra é um dos desafios da construção civil, principalmente para empresas preocupadas com a sua atuação socioambiental. A boa notícia é que o mercado já oferece alternativas de sistemas construtivos que entregam soluções tecnológicas capazes de agregar tal tipo de valor à cadeia sustentável. É o caso da madeira engenheirada (mass timber), que, ao substituir o aço, pode reduzir em até 20% a pegada de carbono em comparação a uma construção tradicional.
Hoje, o mercado da construção conta com dois tipos principais de produtos de madeira engenheirada: o chamado Glulam (Glued Laminated Timber), sistema no qual as tábuas são posicionadas e coladas na mesma orientação das suas fibras; e o CLT (cross-laminated timber), em que as tábuas são posicionadas e coladas de forma cruzada, em camadas alternadas. Essa forma de construção contribui para a redução dos impactos ambientais dos edifícios, tanto no período de obra, quanto no de ocupação.
CONSTRUÇÃO RÁPIDA E SUSTENTÁVEL
Com peças feitas sob medida e menos desperdício de material e de tempo, obras feitas com a técnica podem ser entregues até 50% mais rápido do que construções feitas com métodos tradicionais.
Exemplo desse tipo de construção pode ser visto no novo restaurante 24 horas do McDonald’s, em São Paulo (SP), que tem chamado a atenção por seu visual, com estrutura de madeira aparente. A unidade recém-inaugurada na avenida Bernardino de Campos, na região da avenida Paulista, tem seu projeto estrutural calcado em soluções tecnológicas para a construção civil, com apoio do Superlimão, escritório de arquitetura especializado em inovação e projetos sustentáveis.
Nesta unidade da rede de fast food, foram usados 136 metros cúbicos de madeira, na técnica CLT (cross-laminated timber).
SUSTENTABILIDADE, INOVAÇÃO E TECNOLOGIA CONSTRUTIVA
Apesar da ancestralidade da madeira como material construtivo, só com a chegada da técnica “mass timber”, que surgiu na Áustria nos anos 1990, é que foi possível erguer edifícios com vários pavimentos e contendo diversos tipos de materiais, com eficiência e durabilidade.
Nesse sistema, os elementos construtivos são extraídos de florestas plantadas, geralmente o pinus, espécie originária do hemisfério norte, trazida para o Brasil nos anos 1970 e atualmente cultivada no sul e no sudeste. A própria matéria-prima captura carbono da atmosfera, contribuindo para a redução do efeito estufa.
Segundo a Noah, startup que oferece soluções tecnológicas para a construção civil e que participou do projet, em parceria com a Superlimão, 1m³ de madeira engenheirada corresponde ao estoque de, aproximadamente, uma tonelada de CO2. Para projetos concebidos com ênfase na sustentabilidade, essa característica do material é um importante ativo de grande valor. Afinal, a madeira engenheirada se destaca por sua tecnologia, alinhada aos princípios de responsabilidade ambiental, social e governança (ESG), tão em alta no universo corporativo.
Ainda sobre processos construtivos que permitem construções mais ecológicas há o chamado “Wood Framing”, cujo sistema é composto por perfis de madeira de reflorestamento, combinados a placas de fechamento interno e externo. Ou seja, os painéis são pré-montados e chegam ao canteiro já com instalações embutidas. Então, são içados e montados, dando forma ao edifício.
Recentemente, a empresa paraense Tecverde lançou mão da tecnologia para construir e entregar casas no prazo de um dia para seus clientes. O projeto “CASA 1.0” tem o objetivo de viabilizar empreendimentos econômicos que seriam, hoje, inviáveis com métodos tradicionais — mas se tornaram possíveis com a madeira engenheirada.
Neste projeto, as casas saem 85% pré-fabricadas, já com a parte elétrica e hidráulica, além de banheiro e cozinha modular, com louças instaladas. Pintura, cerâmica e gesso podem ser finalizados em mais três dias de trabalho. Ou seja, agilidade na entrega, redução do custo final para o consumidor, redução de mão de obra, canteiros mais enxutos, sem resíduos e alta performance, uma vez que, segundo a empresa, as casas têm melhor desempenho térmico, redução de ruídos e segurança em relação às construções tradicionais.
DESIGN BIOFÍLICO E BEM-ESTAR SOCIAL
Com o uso da madeira engenheirada, omeio ambiente e a sociedade saem ganhando. Afinal, espaços com elementos naturais geram níveis até 15% mais elevados de bem-estar em seus ocupantes, além de estimularem a produtividade e a criatividade. Isso é o que revelou o relatório “Espaços humanos: o impacto global do design biofílico no ambiente de trabalho”, publicado pela Green Plants for Green Buildings, organização sem fins lucrativos que tem como objetivo comunicar os benefícios estéticos, de bem-estar e econômicos da natureza no ambiente construído.
Não à toa, a rede Walmart decidiu construir sua nova sede no Arkansas (EUA), com madeira engenheirada. Outras marcas, como o Google, também estão de olho nesse formato de construção.
A utilização de tais sistemas, em substituição aos convencionais, reduz as atividades nos canteiros de obras, diminui o risco de acidente de trabalho, melhora a produtividade, elimina desperdícios e resíduos e, ainda, permite uma previsibilidade de custos e prazos. Ou seja, um cenário muito diferente do canteiro de obra tradicional, com média de 25% de desperdício de material.
Atualmente, a normatização brasileira relacionada aos sistemas construtivos em madeira está bastante avançada. Duas normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) se destacam: a ABNT NBR 16936, sobre edificações em “light wood frame”, e a ABNT NBR 7190, sobre projeto de estruturas de madeira. Ou seja, há bastante espaço para a técnica crescer no país nos próximos anos.
Fonte: Habitability. https://habitability.com.br/construcoes-em-madeira-reduzem-ate-20-da-pegada-de-carbono/