Madeira é o único material construtivo fabricado pela própria natureza, a árvore, portanto, um recurso natural renovável
Em tempos de proibição do uso de canudinhos plásticos e a quase que imediata reação de algumas empresas propondo interessantes soluções alternativas, sempre é bom lembrar informações importantes a respeito dos procedimentos de descarte da madeira tratada, afinal ela contém produtos químicos de classificações toxicológicas que merecem atenção.
Nada contra, até porque a enorme maioria dos materiais utilizados pelo homem está sujeita aos devidos enquadramentos relacionados à sua destinação final. Importante destacar que o assunto é devidamente regulamentado através da Resolução Conama 307 e pela adoção da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Pnrs), importantes instrumentos que determinam os cuidados a respeito da disposição de todo e qualquer resíduo gerado, seja ele de qualquer natureza.
No caso da madeira tratada, são definidos como resíduos desde pequenas peças resultantes de cortes e entalhes até peças removidas de forma permanente do seu uso original, como mourões de cercas, postes, dormentes, etc. Materiais ou produtos de madeira tratada quando reutilizados de forma consistente não são considerados como resíduos descartáveis. Ainda que no Brasil os volumes destinados às várias finalidades de uso não são tão expressivos, não significa que estamos isentos da atenção a respeito do tema relacionado aos padrões de destinação, lembrando que se observa atualmente forte tendência de crescimento desses volumes no setor da construção, onde as possibilidades maior geração de resíduos se multiplicam.
Primeiramente, as práticas de aquisição de peças sob medida devem ser evitadas a todo custo, pois, ajustes de medidas na obra geram resíduos, não sendo, portanto, recomendados. Por outro lado, quando inevitável, em qualquer situação deve-se buscar primeiramente qualquer possibilidade de reutilização de peças ou segmentos não utilizados ou retirados de serviço.
Restos de mourões de cerca ou dormentes são muito valorizados na área do paisagismo, como cercados de pequenos jardins, degraus de escadas rústicas, demarcadores de terrenos, etc. Restos de postes de madeira tratada atendem perfeitamente a demanda por madeiras utilizadas nas construções de galpões rústicos, esticadores de cercas ou pequenos postes de sinalizações urbanas e rurais. São produtos de reuso bastante procurados, pois apresentam perspectiva de vida útil muito boa, além de material de baixo custo. Muitas vezes são considerados materiais decorativos com ótimo espaço no mercado. Restos de madeira tratada jamais devem ser utilizados para fogueiras, ou como lenha de fogões, lareiras, churrasqueiras ou equivalentes.
A reciclagem é também altamente recomendada, envolvendo a transformação de madeira tratada retirada de serviço e transformada em outros produtos comercializáveis. Peças grandes, como postes, podem ser processados e transformados em pranchas ou tábuas destinadas a construções diversas, como réguas de decks, cercados ou pisos de passarelas de parques. No caso de grandes volumes, existe a possibilidade de transformação de restos de madeira tratada em cavacos ou partículas para a fabricação de painéis diversos, incluindo compósitos. A adoção de incineração em nível industrial é praticamente inacessível, mesmo em países onde os volumes são significativamente maiores que no Brasil.
Uma solução alternativa e viável é o emprego de restos de madeira tratada para aproveitamento energético como substituto parcial de combustíveis em fornos ou caldeiras, com sistemas de controles de queima e emissões, prática bastante comum adotada por empresas produtoras de cimento.
A destinação para aterros industriais (Classe II A – resíduos não inertes) ou para aterros industriais (Classe I – resíduos perigosos) é prática corrente e permitida desde que estejam devidamente licenciados pelos órgãos ambientais competentes e em sintonia com as legislações vigentes.
Não podemos desprezar o fato de que a madeira traz em seu bojo a sua origem. É o único material construtivo fabricado pela própria natureza, a árvore, portanto, um recurso natural renovável e, dentro do seu ciclo de vida, contribui com a captação e sequestro de dióxido de carbono, um gás de efeito estufa. Medidas de destinação desse material tratado, quando inservível, estão longe da complexidade de muitos outros materiais alternativos utilizados em qualquer tipo de construção.
Flavio Geraldo
FG4Mad – Consultoria em Madeira
contato: flavio@fg4mad.com.br